O consultor Bernt Entschev, considerado um dos maiores head hunters do país, fez a palestra de abertura do 15º Encontro de Atividades Científicas e 6º Congresso de Extensão Universitária, na última quinta-feira, 25 de outubro.
Ele falou ao vivo, via satélite, dos estúdios da Unopar EaD em Londrina para mais de 450 polos em todo o Brasil sobre “O Mercado de Trabalho para a Geração Y”. Antes da palestra Entschev conversou com a assessoria de imprensa da Unopar sobre o impacto desses profissionais no mercado de trabalho e no futuro da sociedade brasileira. Veja a entrevista:
Unopar: Quem é a Geração Y?
Bernt: São profissionais jovens, de 18 a 30 anos, rápidos, ansiosos, com um comportamento bastante agressivo, que querem crescer rapidamente e a qualquer preço. Eles se parecem aos Yuppies dos anos 70, que ambicionavam ganhar um milhão de dólares antes dos 30 anos. Só que em vez de dinheiro, a Geração Y quer poder.
Unopar: Essa pressa faz com que eles troquem de emprego com freqüência. Em que medida isso afeta seu desenvolvimento profissional e também as empresas onde eles trabalham?
Bernt: A troca constante de emprego é ruim para a empresa e para o profissional. Quando a pessoa fica pouco tempo num cargo ela não desenvolve relacionamentos, não constrói registro de memória da empresa e da função. É como jogar futebol: qualquer um pode chutar uma bola mas é preciso muito treino para jogar bem. Quem troca muito de emprego pode adquirir muita informação, mas com pouca profundidade. Essas pessoas não chegam a conhecer a empresa, seus sistemas de produção ou seu mercado consumidor.
Unopar: A Geração Y é reconhecida pela capacidade de trabalhar com várias mídias e informações ao mesmo tempo. O senhor acha isso positivo ou acredita que prejudica o trabalho em equipe?
Bernt: A gente precisa reconhecer essa competência deles. Acho que em funções operacionais essa característica não atrapalha. No entanto, em funções que precisam usar estratégia, raciocínio, tomar decisões, o profissional precisa se concentrar.
Unopar: O senhor acha que o mercado brasileiro está preparado para esse profissional?
Bernt: Isso depende muito da política organizacional da empresa. Empresa não é democracia mas existem algumas que são verdadeiras ditaduras militares. Recentemente fiz uma palestra para uma empresa de Curitiba com quase 300 funcionários. Lá eles permitem tudo, desde que o funcionário entregue o trabalho no prazo. Mas no Brasil essa forma de administrar é recente e está mais restrita a empresas de tecnologia e comunicação.
Unopar: Como fica o embate entre as diferentes gerações de profissionais no mercado de trabalho?
Bernt: Depende da empresa. Na área de produção essa diferença é desvantajosa mas na área de criação e gestão eu acredito que ela possa ser positiva. Depende da capacidade da empresa de fazer com que indivíduos diferentes trabalhem de forma sinérgica. Isso passa muito pela forma como a empresa lida com erros.Algumas empresas aproveitam os erros para aprender e crescer; outras só procuram um culpado para crucificar.
Unopar: A Geração Y prioriza a vida pessoal em relação ao trabalho. Que impacto tem esse tipo de comportamento num mercado cada vez mais competitivo como o nosso?
Bernt: Acho que eles não leram O Capital, de Karl Marx (risos). Todo trabalhador precisa gerar um excedente de produção, que é o lucro. A Geração Y quer trabalhar menos e ganhar mais. E quer que isso aconteça rapidamente. Minha experiência me diz que isso não vai acontecer. Quem imagina sobreviver no mercado, hoje, trabalhando de 6 a 8 horas por dia, não vai ter sucesso profissional.
Unopar: Que tipo de líderes/chefes a Geração Y vai gerar?
Bernt: Um profissional da Geração Y, com 18 anos, não vai continuar sendo GY aos 30 anos. As pessoas mudam, elas amadurecem. Eu acho que aos 21 anos um jovem da GY dificilmente tem condições de ser um bom chefe ou líder. Mas aos 30 ele vai ter outra capacidade de perceber as pessoas. Então, acredito que daqui a 15, 20 anos, essa Geração Y vai produzir bons líderes.
Unopar: De que forma a Geração Y vai mudar a sociedade nos próximos anos?
Bernt: Eu acredito que o que vai mudar muito é a mecanização do trabalho. As máquinas vão elevar muito os níveis de produção. E a expansão populacional vai passar por uma fase de retração. O que eu estou dizendo é que as famílias vão diminuir. Existem estudos mostrando que o Brasil vai crescer até 2030 e depois esse crescimento populacional começa a se recolher. A concentração de renda também vai mudar. O nosso modelo econômico valoriza muito o que a pessoa tem e não o que ela é. Se você não tem nada, você não é ninguém. Creio que é nesse aspecto, principalmente, que a Geração Y vai trazer mudanças. Eles têm uma ótica diferenciada: aceitam ter menos para ser mais.
Fonte: Unopar News